O Triple Bottom Line, termo percursor da significância do equilíbrio rumo ao desenvolvimento sustentável, foi dito como ultrapassado pelas últimas atualizações dos conceitos em torno da sustentabilidade e desapareceu das narrativas empresariais.

No entanto, ele representa muito bem a condição sustentável da economia – quando ilustrado de forma correta – e saiu de cena sem ter um ponto fundamental lapidado acerca de seu conceito, particularmente na sua tradução em português: Social, Ambiental e Econômico não expressam a verdade sobre o equilíbrio proposto. Há um erro aí. As esferas são Social, Ambiental e Financeira. Economia é o todo.

Economia é o que se forma com os recursos naturais sendo manipulados pelos recursos humanos, criando, assim, os recursos financeiros. Tudo o que se circula no mundo vem de matérias-primas moldadas, transformadas, beneficiadas, elaboradas pelo homem, criando o excedente, o valor agregado com sua inteligência e força de trabalho: o lucro. É aí que se faz o dinheiro, ou o Recurso Financeiro.

Mas dinheiro não é Economia. Ele é um dos três recursos que fazem a economia existir. A Economia abrange, entre outras coisas, o dinheiro. E essas outras coisas estão contidas (todas) nas esferas Ambiental e Social.

Em inglês, no Triple Bottom Line original postulado por John Elkington na década de 1990, temos isso: People / Planet / Profit. Profit = Lucro. Não está Economia no original, está Lucro. O desenho do TBL não deve trazer a palavra Economia em uma das esferas, compondo com Ambiental e Social no mesmo nível. Deve trazer a palavra Financeiro – ou, se preferirmos, Dinheiro ou Lucro.

Deve também trazer – e esta contribuição é por minha conta – uma esfera maior, englobando as três (Social, Ambiental e Financeira) juntas. Esta esfera maior que contempla as três, sim, é a Economia.

O importante é percebermos que a Economia é formada pelo todo, pelos recursos humanos + os naturais + os financeiros. Todos estes recursos juntos, formam a ampla e valorosa Economia. Se esta palavra estiver em posição equivalente a Ambiental e Social, não enxergaremos o que é, de fato, Economia, tampouco teremos noção do valor individual dos Recursos Naturais e Humanos.

O livro Capitalismo Natural, de Paul Hawken, Amory Lovins e L. Hunter Lovins traz, com uma argumentação eloquente e prática, o caminho para medirmos o valor (financeiro) dos Recursos Naturais. A capa da primeira edição do livro, pela editora Cultrix no Brasil, no ano 2000, trás o comentário “Um marco no caminho da sustentabilidade ecológica.”, de Fritjof Capra. É um pensamento inédito e vale a leitura.

Diversas outras publicações mencionam o valor mensurável, aplicável aos recursos naturais. O que este livro e esses estudos mostram é que a água, as pedras, as plantas, e tudo o que usamos “de graça”, tem seu preço calculável. As commodities comercializadas já estão precificadas. O que tem valor, mas ainda não aferimos o preço, são estes recursos vitais que usamos no dia a dia sem perceber, como o ar que respiramos.

O valor dos recursos humanos, por outro lado, já sabemos: o mercado de trabalho o estabelece. Poderia ser melhor, com mais igualdade, justiça, equidade e tal, mas estamos no caminho e o trabalho braçal e intelectual, já está precificado. Então, se uma árvore vale X dólares, a água Z dólares, o projeto do engenheiro K e as horas do marceneiro vale Y, somados X+Z+K+Y temos o custo de um produto pronto. O preço deste bem tem o acréscimo do fruto da iniciativa, da inteligência e do trabalho de quem possibilitou este benefício chegar às mãos passivas do comprador. O valor final que compõe o preço deste bem, junto com o custo (matéria-prima e trabalho), é o lucro. Este excedente é o recurso financeiro que possibilita a sustentabilidade, em harmonia Social e Ambiental.

O equilíbrio visado, sugerido, proposto pelo TBL é este: Financeiro compondo com Ambiental e Social, como no original de Elkington. Seus símbolos são ícones de uma pessoa (ou várias pessoas); o planeta (ou uma árvore) e o Cifrão. O TBL ilustra o equilíbrio entre: o menor impacto negativo possível no meio ambiente, extraindo o melhor dos recursos naturais e fazendo mais com menos; o melhor benefício às pessoas em justiça, oferta de trabalho e de bens de consumo; e a criação do recurso financeiro (dinheiro) por meio do lucro das empresas.

Tudo isso junto sustenta o fluxo econômico. Os valores que dispomos e manipulamos na vida, estão contidos na natureza, na mente e habilidade humana e no dinheiro, criado por esta espécie única da qual fazemos parte. Tudo tem valor e estes valores juntos, somados e fundidos, formam a Economia.

Não lançar mão da palavra Lucro e deslocar a Economia para este nível menor, subtrai dela os valores Sociais e Ambientais, minimiza sua abrangência e distorce o entendimento da verdade.

Esta argumentação sugere um conflito teórico e filosófico, mas as implicações dessa distorção vão desde a repulsa ao Lucro, por parte dos mal-informados anticapitalistas, até a orientação estratégica equivocada dos grandes gestores empresariais. É um erro muito pequeno que pode causar um estrago de longo prazo muito grande. Um ajuste simples a ser feito em nossas mentes, com o qual teremos profundos efeitos práticos.

Revise este ponto de vista e perceba a liberdade desta visão clara da nossa vida sobre a Terra.