Da Bíblia aos filósofos e poetas contemporâneos, há a proclamação do nascimento de uma nova era quando se atinge o que aparenta ser o fim de um período em vigor.
Não que já estejamos no fim do mundo, embora tenha gente que diga que sim e, em muitos lugares, está parecendo mesmo. Mas, guerras e catástrofes à parte, me refiro aqui ao que pareceu, neste início de 2024, o fim do ESG.
A torcida contra ficou alvoroçada. Os profissionais da área, com um frio na barriga.
Grandes empresas pressionaram até o Larry Flink, da Black Rock. Alertaram o gestor sobre o risco de saírem de sua carteira, caso ele mantenha as exigências outrora fixadas como parâmetros ESG, direcionando sua importante dezena de trilhões de dólares a mercados afins. E o homem baixou a guarda no uso do termo. Ele não tem mais mencionado ESG em suas comunicações oficiais e talvez não o vejamos falar sobre isso novamente tão cedo.
Porém, o termo é uma coisa e a prática é outra. Inclusive, os que muito levantaram a bandeira, se colocando como entusiastas do ESG estavam, estes sim, seguindo uma moda, fazendo green-social-management-washing. Na mesma proporção que um cão que muito ladra não morde, muitas empresas que falam demais sobre o assunto estão encobrindo práticas incoerentes ou a ausência de boas práticas, focados apenas em “aparecer bem na foto”.
Mas o que ESG significa vai além do que o que a sigla traduz. Zelar pelas questões ambientais e sociais, partindo da governança é uma questão óbvia de saúde empresarial, assim como é para a pessoa cuidar da alimentação e praticar atividades físicas. E, no caso do indivíduo, isso parte de uma decisão pessoal, mental, de força de vontade, do seu governo pessoal. Para as empresas, cuidar dos impactos que gera, dos que pode evitar e olhar para o que se pode criar como novo, é o exercício mais coerente e vital dos negócios, da mesma forma que é o cuidado da saúde fisiológica de cada pessoa. É agredir menos e promover mais. Desperdiçar menos e agregar mais valor. É ser melhor gestor dos recursos que se tem em mãos.
Se o nome é ESG, sustentabilidade empresarial, gestão de riscos, gestão 360, não importa. O que importa é executar suas atividades empresariais de forma plena, saudável, econômica, construtiva e coerente. É fazer mais com menos e entender que menos é mais. É ter ambição sim, mas ganância não.
E ainda que surjam novas nomenclaturas, modalidades, ferramentas, métricas e metodologias, a intenção, a meta, o objetivo central do impacto positivo por meio das empresas será o mesmo. O que será afetado são as mesmas coisas, pois não existem outras; trata-se de gente, recursos naturais e dinheiro. É em torno destes recursos que o mundo dá suas voltas. Sempre partirá e estará em torno das pessoas, pois são elas que gerem as empresas, que cuidam do meio ambiente ou não, que cuidam dos outros humanos ou não e que fazem uma gestão ética e eficaz ou não. Ou um negócio é gerido de forma saudável pelas pessoas, ou não é.
Estamos em um tempo de transformação e mutação intensa, no qual a turbulência é natural. A revisão, a mudança e os ajustes na taxonomia e nos postulados estabelecidos estão no ápice de sua atividade.
Estamos na gestação de uma realidade que nos é tão nova quanto é para a mãe e para o bebê a realidade de ambos após o nascimento. Enquanto no ventre, estamos em conforto e segurança absolutos e a mãe só deixa fluir a natureza. O desenvolvimento é absoluto e natural, muda o tempo todo e sob a força vital incontrolável, mas de confiança divina. Sabe-se o que vai acontecer até o nascimento. E depois que nascemos, seguimos uma mudança diária, semanal, mensal, anual. Crescemos e nos desenvolvemos eternamente. Não há um ponto final aonde chegar (exceto a morte, claro), mas sim um caminho de cuidados e melhorias constantes pelo resto da vida.
Cuidar da sua gestão ambiental e social, partindo da governança, é a postura mais natural, eficaz e coerente que se pode ter para a perenidade, longevidade e sustentabilidade das empresas. Este novo tempo está nascendo. Devemos dar um nome a ele? Não é fundamental. É uma era da história que assim como as passadas, são marcadas por realidades latentes, porém inúmeras. Um nome ou uma sigla não define um período da humanidade sobre a Terra. E daqui a alguns anos, quando boas práticas socioambientais forem commodities como a qualidade é hoje, veremos que outras realidades também simbolizam este tempo, veremos que não é só a busca pelo ESG que nomeia nossa era.
Mas, a empresa gerida com cuidados ESG é, sim, um novo ser, que está nascendo agora e pertence a esta geração. O que ela vai ser quando crescer, só Deus sabe.
Não nos abalemos com termos que surgem e desaparecem, com nomenclaturas que estabelecem moda ou movimentos efêmeros. Foquemos na saúde corporativa, desde a mental de seus colaboradores, a relacional com seus fornecedores e clientes e a exploratória com o ambiente que nos cerca e serve. Deixemos nascer saudável e livre este ser iluminado pelas boas atitudes em tudo que tange sua vida.
Chame suas boas práticas do que quiser, só não deixe de chamar seu espírito empreendedor à esta responsabilidade de cuidado eterno e permanente.
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