Lá nos primórdios da organização social, quando toda criação de valor começou nos primeiros passos da industrialização, durante a colonização dos Estados Unidos, com as primeiras ferramentas criadas para ampliar poder do trabalho, para construir uma nação, para estabelecer um Estado próspero no sentido real, um Estado que traz riquezas de dentro do indivíduo, beneficiando aos outros e proporcionar o desfrute a todos, lá, naquele tempo, o capitalismo nasceu. E ele era assim, saudável.

Esta empreitada de dentro pra fora, a concepção humana, a criação de valor a partir da ideia de um ser vivente e desenvolvida por um grupo coordenado por ele, é a salubridade do crescimento. É daí que surge o lucro individual e é daí que surgem as possibilidades de desenvolvimento social. A partir deste valor criado e materializado, deste benefício excedente concebido “do nada” é que se estabelecem todas as possibilidades de desenvolvimento, seja este sustentável como queremos, ou não, como tem sido.

O lucro nada mais é que o prêmio pelo benefício compartilhado. O lucro de uma árvore frutífera é o fruto. O lucro de uma mãe, de qualquer espécie, é o filho. O lucro de uma empresa, é o excedente financeiro.

O capitalismo era saudável no seu nascimento e foi deturpado pelo ser humano que visou um lucro inexistente, além do natural, do justo, do sustentável. O Regime foi ficando selvagem à medida que o ser humano, com medo da falta e embriagado em ganância, fez uso de sua força divina de crescimento, para explorar os outros humanos, trabalhadores e compradores e os recursos naturais de forma irresponsável, forçando uma “sobra” além do factível. E pior que isso: acumularam, nesse Regime Selvagem, mais do que podiam destinar, ordenar, direcionar, fosse para o seu consumo ou para as próprias ampliações. Foi aí que se estabeleceram o desperdício e a injustiça, dando ao capitalismo, a reputação maligna e destrutiva sobre a qual seus desafetos tanto batem.

Mas naquele tempo, naquele início de negócios do passado e em muitos negócios atuais que despertam indivíduos atraídos por criar, conceber, implementar o oferecer produtos ou serviços que contribuem para um mundo melhor, este florescer do chamado empreendedor que mobiliza homens e mulheres por algum instinto, ou seja lá pelo o que for, é saudável. Este empoderamento criativo, belo e divino do homem, é o capitalismo.

E ocorreu que, no desenrolar da história, em tempos em que o extrativismo era exercido com a visão de infinitude dos recursos naturais (e sobre isso falaremos mais adiante), o “ser que aperta o botão”, aquele por trás de tudo o que acontece no mundo, o auto denominado Ser Humano, extasiado com o livre arbítrio para crescer mais e sempre, acima de tudo, até onde conseguisse, pelo simples fato de ser possível, fez do capitalismo um regime selvagem. O Homo Sapiens usou essa ferramenta construtiva, concebida como um fruto da mais pura criação divina, por meio da qual o homem faz o que vê o Pai fazendo, como se estivesse de volta na selva.

Mas não, o capitalismo não é selvagem. Ele foi selvagem nas mãos de algumas gerações que eram selvagens. E, voltando na questão sobre e infinitude natural percebida na época, era o que eles tinham condição de ver, perceber, entender, conhecer. Diante da exploração dos recursos naturais daquela época, da mineração à água, da madeira às pedras, dos animais aos metais, o que era usado era ínfimo perto da oferta disponível. Nem o petróleo estava sendo usado de forma a se perceber poluição do ar ou aquecimento global. Isso era uma realidade não só distante demais daquelas gerações, mas impossível de ser sugerida. Só seria possível alguém dizer pro Ford que os veículos iriam colaborar muito com o aquecimento global, se a pessoa voltasse no tempo. E imagine você a cara dele, se ouvisse isso.

Pois este fato, de que não havia a consciência do impacto humano na natureza, somado à gana de certos humanos por crescer, mesmo passando por cima dos outros, fez o capitalismo surtir o efeito negativo que surtiu. Sim, foi mal. Foi feita muita coisa má. Até a escravidão moderna dos africanos foi fruto deste mal. As escravidões antigas não foram fruto do capitalismo, este ainda não existia, elas eram práxis de reinos, faziam parte da filosofia de guerra.

Porém, o capitalismo virar selvagem foi um distúrbio, um desvio de uma ferramenta eficaz sendo usada para o mau. E não aquele mal maldoso, “de propósito”, mas sim o mal puro, aquele que ignora o que pode causar, a abstenção de fazer o bem. Como é dito por aí, “o mundo não é ruim pela ação dos maus, mas sim pela falta de ação dos bons”. Assim, com o poderoso capitalismo nas mãos dos que não focavam (por incompetência e por incapacidade) em fazer o bem, foi configurado como, taxado de, carimbado com a característica Selvagem.

Mas isso é um engano. Seria como dizer que uma faca, ou o dinheiro, ou o carro ou o avião, são maus. Eles são inanimados. Só é bom ou mau aquele que vive e tem condições de optar por suas ações. Os animais não matam por serem maus, matam por sobrevivência. Nem um ataque de tubarão é um “ataque”, na verdade é um acidente, como muito corretamente dizem os mais contextualizados no mundo animal. Bom ou mal é o que o homem faz, com tudo aquilo em que coloca as mãos.

Esta é uma reflexão sobre fatos da vida sobre a terra. E os fatos são: existem os recursos naturais que é tudo o que Deus, ou a Mãe Natureza, criou; os recursos humanos, que são a inteligência e a força de trabalho; e os recursos financeiros, criado pelos humanos ao manejarem a si próprios e as matérias primas. Recurso este que só pode ser criado no capitalismo. É isso.

Com a mente aberta perceberemos esta verdade no fundo do coração.